CAMILO RODRIGUES CHAVES

Camilo Rodrigues Chaves

A Espiritualidade Superior, continuando a favorecer o progresso físico e a evolução Espiritual sobre o planeta Terra, promoveu a reencarnação

de um fervoroso adepto da Doutrina do Cristo, no estado de Minas Gerais.

Foi ele acolhido no lar do senhor João Evangelista Rodrigues Chaves e de dona Maria Matilde do Amaral Chaves, recebendo o nome de

Camilo Rodrigues Chaves. Era o dia 28 de julho de 1884, no povoado de Campo Belo do Prata, atualmente Campina Verde, Minas Gerais.

Necessário será frisarmos que Camilo Chaves era integrante de uma numerosa família. Ao todo onze irmãos, sendo esses sobrinhos trinetos do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o nosso batalhador da “Inconfidência Mineira”, conhecido por Tiradentes, pela sua profissão de dentista.

Camilo Chaves crescia dentro dos princípios católicos fervorosos, comum nos povos da época. Ainda pequeno, o Bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte Silva, muito amigo da família Chaves, a pedido do pai, o senhor João Chaves, levou-o para Roma. Era um forte desejo dos pais

que Camilo seguisse a carreira eclesiástica, como rezava a boa educação católica, de ter pelo menos um membro da família que se tornasse uma personalidade representativa do catolicismo. Ingressou, portanto, no Colégio Pio Latino-Americano, em Roma. Aí fez os cursos de Humanidades, Matemática e Filosofia, seguindo depois para a Universidade Gregoriana do Vaticano, onde diplomou-se doutor em

Teologia, Filosofia, Ciências Naturais e Matemática.

O coração ansiava para retornar ao Brasil. As saudades dos familiares e a vontade de seguir rumos diferentes em sua vida, fizeram-no rejeitar a ideia do sacerdócio. Antes de receber a Ordem Eclesiástica, despediu-se dos colegas e mestres da Universidade e deu vazão aos seus pensamentos, de encontrar o caminho que o tornasse feliz.

De volta ao Brasil, após os festejos familiares e embora insatisfeito pela recusa do filho em seguir a carreira eclesiástica, os pais de Camilo ficaram felizes por tê-lo novamente em casa junto aos irmãos. Nos dias que se seguiram partiu ele, para as regiões mineiras. Queria ter contato com as matas, sentir o cheiro de terra, ver de perto a Natureza vibrante com o cantar dos pássaros. Isso, para Camilo, era sentir Deus.

Para sua alegria, viu muitos agricultores falando aos homens do campo, ensinando-os a cultivar a terra e a plantar as sementes. E o interesse de Camilo foi tanto que se tornou próspero fazendeiro. Realizava-se em

ter conhecimento no trato com os animais. Fez-se amigo dos camponeses e suas famílias. O assunto era empolgante, pois a questão religiosa era sempre o tema da conversa.

E Camilo pregava a fé, não uma fé piegas sem raciocínio, mas uma crença sólida de amar em fazer o melhor para que todos fossem felizes. Camilo ainda não entendera o porquê de seus atritos interiores para com os princípios católicos.

Seu arquivo espiritual começara a despertar.

Essa iniciativa levou-o a tornar-se professor. Iniciou uma escola rural, ensinando as crianças e alfabetizando os adultos. Essas experiências foram benéficas no futuro de Camilo, que conseguiu criar em Uberlândia, a “Fazenda Experimental da Semente”, e ainda lecionar no Liceu de Uberlândia e no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas. Ainda

escreveu sua primeira obra literária: “Caiapônia”, com o subtítulo “Romance da Terra e do Homem do Brasil Central”, que foi enorme sucesso no mundo intelectual dessa fase brasileira. Era por isso convidado a palestras em diversos países, sobre vários temas. Camilo Chaves falava diversas línguas como: o italiano, francês, espanhol, latim clássico e o grego antigo. Era também exímio pianista, executando

obras de consagrados mestres da música erudita. Camilo Chaves desenvolveu-se em várias áreas como: orador, poeta, escritor, jornalista, comerciante, fazendeiro, político e advogado. Fixando residência em Ituiutaba – MG, conhecera a senhorita Damartina Teixeira Chaves, quando fora a Uberlândia cumprindo um compromisso na cidade. Ambos trocaram olhares simpáticos, que os aproximou e os levou ao consórcio tempos depois. Dessa feliz união nasceram três filhos, netos do casal materno, senhor Coronel Arlindo Teixeira e dona Filomena Augusta Teixeira, que sentiram ser essa união perfeita, com a chegada dos meninos. Foram eles: Hélio Chaves, que se tornou advogado e gerente da Caixa Econômica Federal de Ituiutaba; Camilo Rodrigues Chaves Júnior, também advogado e depois presidente do Partido Social Democrático de Ituiutaba e ex-prefeito do município, também de Ituiutaba. E o caçula, Fabio Teixeira Rodrigues Chaves que, como o pai, advogado, e depois nomeado como promotor público de Ituiutaba. Os exemplos de Camilo e as orientações dadas aos filhos deram frutos, pois estes seguiram firmemente os passos do pai. Camilo Chaves, pelo seu desejo ardente de prestar honrosos serviços ao povo, iniciou-se na carreira política. Por várias vezes foi eleito deputado federal, pelo 5º Distrito Eleitoral, atendendo a todo o Triângulo Mineiro, o restante do

Estado de Minas Gerais e o Brasil. Durante o governo do doutor Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Presidente do Estado de Minas Gerais, conseguiu Camilo Chaves, para Uberlândia, a criação do Ginásio Mineiro de Uberlândia. Daí saíram muitos alunos que representaram e ocuparam cargos de muita responsabilidade como: médicos, advogados,

engenheiros, odontólogos, industriais, prefeitos e muitos outros que se destacaram na área política. Camilo sempre lutou pela educação entre os jovens, principalmente com o respeito a ser dado a família e aos professores. Ensinava, através das conversações entre adultos e adolescentes, a serem religiosos. Ele ainda não se apercebera de que a

Doutrina Espírita estava latente em seu espírito, mas suas

ideias eram profundamente espirituais, naturalmente arquivadas

em seu íntimo.

Fundou o Grupo Escolar “João Pinheiro”, o edifício do Fórum e a ponte “Raul Soares”, que se localizou sobre o rio Tejuco com a criação da Comarca de Ituiutaba. Durante a revolução de 1930, foi Camilo Chaves escolhido como Comandante e Chefe das Forças Revolucionárias no Triângulo Mineiro. Com grande força moral, foi ele destacado defensor do território mineiro. Passado o período crítico da Revolução no País, continuou Camilo a militar na política, agora como membro da Comissão Executiva do Partido Republicano Mineiro.

Algum tempo depois, Camilo Chaves desligou-se da política. Seu íntimo pedia a realização de algo diferente. Passou então a dedicar-se à literatura. Seu romance “Caiapônia”, estava na segunda edição. Fez algumas alterações, acrescentou mais conhecimentos que lhe deram outras experiências até os momentos vividos, como no setor político, no campo educacional etc.

Camilo Chaves foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas

Gerais. Certa vez, discursando nesta instituição, sugeriu a transferência da Capital da República para o Pontal do Triângulo Mineiro, pelas magníficas quedas d’água dos rios Grande e Paranaíba,

que formam o Rio Paraná. Foi grande a repercussão dessa conferência

e por solicitação do deputado Campos Vergal, da bancada de São Paulo, foi essa transcrita nos Anais do Congresso Nacional.

Camilo Chaves ansiava por encontrar respostas para com a sobrevivência da alma. Seu arquivo espiritual começara a se abrir. Começou a ler tudo quanto fosse esclarecedor em matéria da Espiritualidade. Entre as pesquisas sobre os assuntos que se referiam à reencarnação, encontrou fatos históricos sobre a vida da rainha Semíramis. Isso chamou-lhe a atenção. Passou vários dias buscando informações e confirmações da existência dessa histórica personagem.

Tendo em mãos todo relato sobre essa personagem, ele escreveu o romance sobre Semíramis, a rainha da Assíria e da Babilônia. Tornou-se um grande sucesso essa obra de Camilo. Fora tão bem elaborado o tema, com detalhes surpreendentes, que, após o seu desencarne, numa sigilosa reunião mediúnica contando com a presença do médium

Chico Xavier, ficaram claros os relatos de antigas recordações arquivadas em seu espírito. Deixemos esse episódio para o final desse trabalho.

Afastado de suas outras ocupações, Camilo escrevia e estudava a Doutrina Espírita. Embora procurado para se candidatar a deputado federal, pelo Governo Estadual, ele recusou o convite, dizendo que seu partido mais recente era o de ser fiel “servidor Cristão”. Continuou a ser respeitado por toda camada social. A família Espírita havia ganho mais

um semeador na Seara bendita. Sua atuação como escritor, orador e líder de diversos movimentos Espíritas, alastrou-se pelo Triângulo Mineiro, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo etc. Muitos eram os convites, porque o mundo Espírita da época queria conhecê-lo.

Camilo Rodrigues Chaves foi eleito pela primeira vez, como Presidente da “União Espírita Mineira”, considerada como a Casa Máter do Espiritismo em Minas Gerais, no ano de 1946. Ele já atuava na Casa, sendo reeleito várias vezes pelo Conselho Deliberativo, devido a sua

gestão ser tão simples, tão humana e tão sensível ao resolver problemas de difíceis soluções. Não admitia ser levado pelo orgulho e, diante de seus rígidos princípios, sabia ser respeitado, tratando a tudo e a

todos que dele se aproximassem, com dignidade e bondade.

Pensando em dar mais assistência aos necessitados que procuravam

a União Espírita Mineira, fez inaugurar a Assistência Dentária e a

Farmácia Homeopática, tudo gratuito, aumentando consideravelmente

o número de famílias ali atendidas. Outra preocupação de Camilo

Chaves foi a de circular novamente o órgão “O Espírita Mineiro”, que estava paralisado há algum tempo. A orientação fora para que esse periódico tratasse somente de assuntos doutrinários, onde os leitores recebessem o amparo do Evangelho, de forma simples e real.

Os trabalhos na União Espírita Mineira cresciam. O Conselho Deliberativo da Sociedade passou a colaborar junto a Diretoria da Casa e com isso foram elaborados novos Estatutos da União, trazendo inovações e ampliações para vários departamentos internos. Criou-se o Departamento Estadual das Mocidades e o Conselho Federativo Estadual. Isso tudo em concordância com as regras estabelecidas pelo “Pacto Áureo”, para que houvesse uma maior “Unificação”, entre

os Espíritas. Com o Regimento Interno publicado, deu-se característica

disciplinar às reuniões realizadas, entre as várias decisões

a serem tomadas pelos trabalhos desenvolvidos em

seus devidos departamentos.

Camilo Chaves promoveu o Segundo Congresso Espírita Mineiro. Trouxe, com aplausos dos que nele compareceram, a tese levantada por ele mesmo, alertando para ter-se cuidado com as declarações de “Princípios dos Espíritas”, a serem emitidas sem responsabilidades, que poderiam trazer desastrosos problemas Doutrinários no futuro, principalmente na continuidade de novos Congressos, onde poderiam

apenas ficar restritos às pessoas e não na divulgação das obras doutrinárias, fiéis a Kardec. Salientou ainda a divulgação do Espiritismo entre as crianças e os jovens, com aulas de Moral Cristã. Dizia ser necessária uma educação rígida com essas fases reencarnatórias, para que o futuro não demonstrasse dramas terríveis, com aspectos obsessivos.

Chamava a atenção dos pais para serem os orientadores

desses reencarnantes. Camilo Chaves tornara-se realmente a voz que conclamava os Espíritas à necessidade do trabalho urgente e contínuo.

Por ter sua personalidade firme e de decisões rápidas, ele era constantemente atacado pelos encarnados e médiuns dos desencarnados das sombras. Muitas foram as ciladas preparadas para que ele caísse em contradição. Mas, muito cauteloso, procurava raciocinar antes de responder a qualquer alfinetada que lhe faziam sentir o orgulho ferido com provocações dolorosas e humilhantes. Mas, sua reação era natural, tanto que sua fisionomia não se alterava nem no olhar. Ele conhecia os métodos usados pelos Espíritos infelizes e que se aproveitavam dos encarnados que gostavam de aparecer mesmo

tendo consciência de seus atos. Eram unânimes as vozes das pessoas, que bem conheciam o ser humano que fora Camilo Chaves; e assim o descreviam: “Ele tem o cérebro dentro do coração, sentimento e raciocínio caminhando juntos. amor e lealdade aos princípios Doutrinários”.

Durante seu ingresso no Espiritismo, primava por trabalhar onde houvesse necessidade de mãos, que pudessem levar o auxílio mútuo. Formava trabalhadores que procuravam segui-lo, ajustando-se na Seara do Cristo e beneficiando-se, por dividir sofrimentos e caminharem ao encontro do Cristo.

Camilo Chaves fora designado para presidir o “Abrigo Jesus” em

Belo Horizonte, por direcionar a educação da infância e juventude ao

objetivo maior, que para ele deveria ser sempre o religioso, mas sem fugir, também, da instrução cultural e moral daqueles que, por consequências reencarnatórias, viviam no Abrigo Jesus, ou em outras instituições iguais a essa. E foi por esse motivo, de sua preocupação com crianças e adolescentes, que Camilo no segundo Congresso Espírita Mineiro, onde fora presidente, acrescentou o seu desejo de fundar um Ginásio Espírita que levaria o nome de “O Precursor”. Esse projeto seria o início, concluía ele, de no futuro surgir a “Universidade Espírita de Minas Gerais”.

Durante dez anos Camilo Chaves foi o presidente da União

Espírita Mineira, o fundador do Cenáculo Espírita “Tiago, o

Maior”, presidente de honra do Centro Espírita “Amor e Caridade”,

fundador da Sociedade de Amparo à Pobreza, que ficara conhecida como “Sopa dos Pobres” e sempre presente como fiel trabalhador a todas as Sociedades Espíritas, que lhe adotaram o nome.

A trajetória reencarnatória de Camilo Chaves continuou, embora nos últimos anos de sua existência sentisse dificuldades para andar, devido a uma consolidação defeituosa, ocasionada por uma fratura na bacia ilíaca do lado esquerdo, que o obrigava ao uso de uma bengala. Mas mesmo assim, ele estava sempre presente. Com dor ou não, sob chuvas e temporais, com frio ou calor, não se permitia faltar aos seus compromissos. Em nenhum momento ouvia-se reclamações ou queixas de suas dificuldades. Seu semblante era o de alegria e disposição em realizar a obra do Senhor.

A Campanha idealizada por Camilo, para a fundação do Ginásio Espírita, seguia a passos céleres. Para tanto, ajudado por companheiros que acataram a ideia, fundaram a “Associação Cristã de Educadores Limitada”, para conseguirem proventos à compra do terreno e futuras instalações, para que a obra se tornasse realizada.

Muitas dificuldades apareceram, muitos momentos amargos e desilusões sofreu Camilo Chaves, por todo o tempo que durou essa luta. Mas foi ela coroada de êxito. Deus criou situações favoráveis ao empreendimento e todas as barreiras foram vencidas. E no dia 16 de novembro de 1954, o Ginásio Espírita “O Precursor” em Belo Horizonte, estava inaugurado. Sob forte emoção, Camilo Chaves agradecia a

Deus e conseguiu, sob aplausos, proferir um longo discurso.

Nesse discurso, Camilo Chaves falou das dificuldades que foram vencidas, graças a união de todos que acreditavam na maior administração gerada pelo Cristo. Ele impulsionou a todos que o ajudaram a divulgar a maior lei do Pai Criador, “O Amor”. “E é por isso que batalhamos”, dizia aos jovens que por ali passassem e recebessem todo o incentivo para crerem num futuro melhor, com grandes objetivos a serem alcançados. Disse também que o Brasil, como vanguardeiro do Espiritismo, alcançara distância entre os outros países, pelo esforço e devotamento daqueles que se fizeram líderes na divulgação da Doutrina,

como o grande apóstolo e “médico dos pobres”, doutor Bezerra de Menezes, que através de seu grandioso trabalho junto a Federação Espírita Brasileira, soube honrar, curar e pacificar em nome de Jesus. Encerrando sua oratória, dirigiu-se aos companheiros de luta e pediu a

todos que reconhecessem a autoridade de Jesus sobre os desígnios elaborados em Seu nome, para a sustentação da União Espírita Mineira, na continuidade de orientar e acolher a família Espírita Mineira, ou a quem dela precisasse.

A luta desse ilustre operário do bem, antes de sua partida para o mundo Espiritual, deu incentivos aos companheiros na continuidade de outra campanha importante, que seria a construção da sede própria da União Espírita Mineira, já em andamento. Todos que trabalhavam ao

seu lado, ficavam admirados em ver a atividade de Camilo em torno da construção. Ele não conseguia entender, mas seu subconsciente tinha pressa em ver mais esse ideal concretizado. Mas, ele pressentia que seus dias no mundo físico estavam prestes a terminar. E no dia 3 de fevereiro de 1955, as 23h30, com seus 70 anos completos, desencarnou subitamente, vítima de uma angina pectoris. Ele e a esposa, dona Damartina, por essa época moravam no hotel Sul Americano. Haviam resolvido ali habitar para terem mais tranquilidade e darem menos preocupação ao filho caçula, o único que restara, pois os dois primeiros já haviam desencarnado. Seu corpo, horas depois, foi levado para a residência de seu irmão, o senhor João Chaves, onde foi realizado o velório. No dia seguinte, às 17 horas, deu-se o enterro acompanhado de muitos parentes, amigos de várias Instituições Espíritas e políticos. Seu corpo ficou na campa da necrópole do Bonfim. Todas as despesas

dos funerais coube a União Espírita Mineira, pelo desejo de seus companheiros, com a concordância dos familiares do doutor Camilo Chaves.

Foi de grande repercussão o desencarne de Camilo Chaves em todo o estado mineiro. A Academia Mineira de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico, do qual Camilo Chaves fazia parte, prestaram as homenagens de pesar à família. Vários deputados e representantes da Assembleia Legislativa fizeram-se presentes, acompanhando o féretro,

e antes do corpo do Dr. Camilo Chaves baixar a sepultura,

proferiram discursos de agradecimento ao desencarnante,

pelos imensos serviços prestados ao povo mineiro. O Governador do estado decretou luto oficial.

Dias depois, na Assembleia Legislativa, as homenagens continuaram. Muitos foram os políticos que ressaltaram o caráter do doutor Camilo Chaves. O senhor Oscar Moreira falou em nome do povo do Triângulo Mineiro, que chorava de saudade, pelos empreendimentos que foram levados à frente por Camilo, trazendo mais progresso às cidades que compõem o Triângulo Mineiro. E o órgão oficial do Estado de Minas Gerais, publicou em sua edição do dia 8 de fevereiro de 1955, o seguinte: “Foi de grande pesar para a nossa cidade e toda sociedade local, o passamento do ilustre membro, doutor Camilo Rodrigues Chaves. Senador pela antiga Constituinte Mineira, salientou-se entre todos os políticos da época. Literato, deixou uma obra de grande valor, “Caiapônia”, baseada nos hábitos sertanejos.

Espírita convicto, foi presidente por longo tempo, da União Espírita Mineira, deixando uma imensa lacuna para os Espíritas mineiros”.

Todos os jornais de Belo Horizonte noticiaram por vários dias as homenagens e os feitos da vida desse batalhador incansável e tido em toda a Capital Mineira, como um ser desprovido de orgulho e uma grande figura humana. Após seis meses de seu desencarne, o Governador de Minas, nessa época, doutor Clóvis Salgado, criou o terceiro Grupo Escolar da próspera cidade de Ituiutaba, onde Camilo Chaves morou por algum tempo, dando o nome de Grupo Escolar “Senador Camilo Chaves”.

Na Espiritualidade, Camilo fora recebido por todos os Espíritos que o acompanharam nas tarefas pelos quais havia se empenhado. Portanto, ele pode presenciar a inauguração da sede própria da União Espírita Mineira, que se deu no dia 18 de abril de 1956, cabendo à presidência da mesma, após o desencarne de Camilo Chaves, ao senhor Bady Elias Curi. E Camilo, agora liberto do corpo físico, pode aproximar-se do médium Chico Xavier, por quem devotava grande estima e respeito. Seus afazeres durante a vida física não haviam lhe proporcionado realizar a vontade que sentia de conhecer o já famoso médium Chico Xavier. Mas, ele e Chico, em muitas ocasiões, espiritualmente, teciam

valiosas conversações. Tanto que numa das reuniões de estudo que Chico fazia com alguns amigos locais ou de São Paulo, estando presente o senhor Arnaldo Rocha, morador em Belo Horizonte e que fora esposo

de Meimei (quando encarnada), pediu-lhe que procurasse a senhora Neném, cujo verdadeiro nome é Maria Philomena Aluotto Berutto, sua particular amiga.

Numa pequena pausa, queremos salientar, que dona Neném, assim conhecida por todos em Belo Horizonte, foi muito querida nos meios espirituais, tornando-se presidente da União Espírita Mineira por mais de trinta anos. Chico admirava lhe muito a dedicação e sua atividade no movimento Espírita Mineiro.

Admirado, Arnaldo Rocha curioso perguntou ao Chico, qual seria o assunto a ser tratado com dona Neném, também sua amiga e companheira de trabalho nas tarefas doutrinárias. Chico esclareceu-o:

— O nosso amigo espiritual doutor Camilo Chaves, esteve nos visitando e pediu-nos para que dona Neném, a quem ele dedica profunda amizade e respeito, faça acontecer uma reunião em sua casa, com pequeno número de amigos a serem convidados; entre eles estaremos nós e mais o senhor Rubens Romaneli, Ademar Duarte e Bady Curi. Essa reunião deverá ser marcada para a próxima semana no período da tarde. Repare Arnaldo, dizia Chico, que são todos os membros da União Espírita Mineira. Ao saber do recado, dona Neném ficou curiosa, mas Arnaldo dizia nada saber do que poderia ser tratado nessa reunião.

Na data marcada, todos compareceram a casa de dona Neném. Chico justificou a ausência do senhor Rubens Romaneli por motivos pessoais.

Pediu a todos que uma prece fosse feita para a composição espiritual do ambiente, mas antes ele esclareceu que o doutor Camilo Chaves estava presente e agradecia a presença amiga dos que haviam atendido ao seu pedido. Dona Neném surpresa e emocionada, mentalmente ficou grata ao seu particular amigo Chico Xavier por trazer à reunião tão importante Espírito, que, com certeza, teria fatos de grande responsabilidade para todos que ali se encontravam.

Através da psicofonia de Chico Xavier, o estimado e antigo presidente da União Espírita Mineira, com seu jeito simples e gestos nobres, cumprimentou aos integrantes da reunião e falou da sua felicidade por rever os trabalhadores honrosos da Seara do Cristo. Após alguns minutos, doutor Camilo Chaves continuou:

“O objetivo desse encontro é esclarecer aos leitores das futuras edições do livro “Semíramis” de minha autoria, para relatar com mais autenticidade as reencarnações dos personagens descritos, como a própria Semíramis.”

E continuou com sua narração:

“Ao me interessar pela história dessa personagem, não tive tempo de contá-la com todos os pormenores reais, que a história oficial não registrou.”

Graças aos Benfeitores Espirituais, através da mediunidade, pude ver e participar dos relatos que me foram plasmados em quadros, facilitando-me as pesquisas já em andamento. Dito isso, o Espírito Camilo Chaves, dirigiu-se à anfitriã, dona Neném, pedindo-lhe que buscasse um exemplar do romance “Semíramis”, para fazer as anotações que desejava, para completar a obra, em sequência a ser reeditada. Todos os presentes acompanhavam as palavras do Espírito, ávidos por ouvirem as revelações. E Camilo relatou:

— Semíramis trazia em sua reencarnação, importante arquivo de vidas passadas. Hoje, no mundo Espiritual, é trabalhadora incansável, fazendo-se presente nas reuniões mediúnicas, consolando, com mensagens animadoras e palavras repletas de convicção, a quem busca o caminho cristão; adotou o nome de Irmã Ritinha.

O doutor Camilo Chaves revelou, nesse instante, o porquê de seu interesse pela rainha Semíramis. Com o desenrolar da história e a permissão do plano Espiritual, pôde ver um Espírito que lhe pareceu conhecido. Este apresentou-se como o personagem Lecon, tratado no romance como particular amigo de Semíramis, e que sabia ter sido Camilo Chaves o grande amor da rainha Semíramis, a qual carinhosamente o chamava de “meu leão”. O pai de Semíramis, chamado Simas, era o Grão Sacerdote do Egito e reitor da escola de Tanis. Contava ainda Lecon, que Simas, após o desencarne passou a ser o guia Espiritual do médium Chico Xavier, o benfeitor Emmanuel. E dirigindo-se aos membros da reunião, Camilo Chaves, acrescentou:

“Este médium que me deu a oportunidade destas narrativas, também viveu nessa época, sendo a faraó do antigo Egito, “Chams”, era o seu nome, grande amiga de Semíramis e, logo que exerceu o poder, trouxe a paz e o progresso do Ocidente ao Oriente”. Doutor Camilo Chaves, nesse momento, fez pequena pausa e apontando o senhor Arnaldo Rocha falou: “Você também, meu amigo, viveu por essa época junto com sua primeira esposa, Meimei. Ela e Semíramis eram muito próximas. Seu nome era Mabi, princesa da Média, que veio ter um romance com um general assírio Beb Alib. Esse general era você Arnaldo. General do império da Assíria, da Babilônia, do Sumer e Akad. Mas, voltando a história de Semíramis, devemos salientar que ela construiu o maior império já visto, tanto que Alexandre também conhecido como “O Grande”, pelas suas conquistas de guerras, tomou-se de profunda inveja de Semíramis. Considerava-a como a mais feroz opositora de suas glórias.” Fazendo uma pequena pausa, Camilo prosseguiu seus relatos através da mediunidade psicofônica de Chico Xavier: “Seguiremos agora meus amigos, narrando a reencarnação de Semíramis, que retorna no século XIV, como Ignez Pires de Castro. Cresceu com desenvoltura e beleza física. Sua presença era sempre notada pela simplicidade e elegância natural. Era apelidada pelos poetas da época, como a galega de “colo de garça”. Fora aia da futura esposa de Dom Pedro I, de Portugal, a princesa de Castela, Constança. Quando Dom Pedro veio a conhecer Ignez, por ela se apaixonou. Ignez também correspondeu ardentemente a esse amor e Dom Pedro ignorou todas as convenções da Corte, desafiando a tudo e a todos, entregando-se de corpo e alma à Ignez.” Dona Constança, princesa de Castela, sugestionada e influenciada pelo pai de Dom Pedro, de Portugal, o rei Afonso IV, fingia nada saber, porque ela queria ser coroada como a rainha de Portugal; e o rei Afonso a incentivava quanto a isso e exigia que se tornasse cada vez mais carinhosa com Dom Pedro. Agindo dessa forma ele não teria coragem de renegá-la como esposa e mãe de seu primeiro neto que estava a caminho. Em 1345, dona Constança deu à luz a um menino que recebeu o nome de Fernando, sendo este o primeiro neto que Dom Afonso reconhecia como o único filho legítimo de Dom Pedro. Mas, dona Constança entrou em profunda depressão após o parto. Desgostosa com a ausência do esposo e ciente de sua traição, não encontrou lenitivos para continuar a viver e veio a desencarnar no ano de 1349, antes de Dom Pedro subir ao trono de Portugal. A vontade de Dom Afonso para que seu neto Fernando sucedesse ao trono de Portugal, e da própria Constança a ser rainha não se concretizaram. O ódio do rei Afonso contra Ignez piorou após o desenlace de Constança. Ele idealizou uma trama para afastar Ignez definitivamente de Dom Pedro. E entre amigos da Corte foi planejada uma caçada na qual Dom Pedro deveria estar presente. E quando ele voltava em meio do caminho, soube do assassinato de Ignez, por ordem de seu pai Dom Afonso. Desesperado, por encontrar sua amada morta, rompe relações com seu pai, Dom Afonso. Quando em 1357 assumiu o trono português, Dom Pedro I consagra Ignez Pires de Castro como rainha de Portugal. Ela é coroada mesmo depois de morta. Nesse ponto, emocionado e passando profunda preocupação aos assistentes, doutor Camilo acrescentou:

— Tentamos trazer, diante dessas revelações permitidas pelo Alto, o objetivo de podermos sentir as oportunidades que Deus nos dá diante dos atos cometidos pelo livre-arbítrio de passadas vidas com relação às reencarnações futuras, pessoais ou quando há administração de um coletivo. Neste caso, dos povos, mesmo entre vitórias, há muitos compromissos assumidos, queiramos ou não.

E, entre lágrimas, dona Neném, agradecendo aquelas preciosas revelações desejou ao comunicante as bênçãos do Alto e contínuo progresso Espiritual, sendo sempre o amigo a trazer esclarecimentos que possam contribuir com o aperfeiçoamento humano. Com uma prece, a reunião foi encerrada. Doutor Camilo Rodrigues Chaves, trouxe uma grande abertura no campo assistencial para os trabalhadores da seara cristã, deixando obras de valor para a Doutrina Espírita. O livro Semíramis, na verdade, teve sua edição completa e publicada após o desencarne do doutor Camilo Chaves.

Eis um pequeno trecho de uma comunicação de Camilo, através da mediunidade de Chico Xavier:

“Não vale tomar a Doutrina a serviço nosso, quando é nossa obrigação viver a serviço dela” (Instruções Psicofônicas). Deixamos também, aqui registrada, a profunda ligação de Chico Xavier com dona Neném, que segundo consta em relato do inseparável amigo de Chico, o senhor Arnaldo Rocha, dona Neném, ao saber da notícia do desencarne de Chico pela televisão, teve um derrame que quase a levou a óbito, culminando, porém o seu desencarne sete meses após esse acontecimento.

Temos, portanto, fatos verídicos desses Espíritos que se juntam numa mesma reencarnação para dar continuidade sempre crescente no progresso espiritual da Humanidade.

(Eloísa)

Fonte: Revista SEAREIRO – Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” – Ano 11 – nº 105 – Julho/2010 (Distribuição Gratuita)